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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Carroceiro Solitário


 
I
O carroceiro vai faceiro, seguindo pela estrada,
Com sua gaitinha de boca, pra tocar La na pousada.
Quando a tarde chegava, todos com muita alegria.
Desengatava a burrada, pois só saiam no outro dia.
À noite contavam causos, perto do fogo de chão.
Tomavam um gole de pura, depois um bom chimarrão.

II
Enquanto descansava um pouco, ia preparando o jantar,
Não podia dormir tarde, pois tinha que madrugar.
Até ir ajeitando tudo, o trabalho era duro
O carroção carregado, puxado por oito burros.
O trabalho era pesado feito por homem valente,
Temos que lembrar o passado pra poder viver o presente.

III
Este velho carroceiro era descendente de alemão,
Desbrava o Paraná, em cima do carroção.
Junto com as mercadorias, também ia à profissão.
E pendurado no toldo, ia o stinger(1), que é um lampião.
Às vezes com a guaiaca cheia, às vezes com ela vazia.
De Pitanga e Guarapuava pra Paranaguá ele ia.
Carregada de erva-mate, a viagem dava uns dez dias,
Cortando nossos planaltos, as três serras descia.

IV
No retorno ele trazia querosene, açúcar e sal.
Quando o carroção encalhava, ai ele se dava mal.
Esperava os companheiros e faziam um pixirum,
Pois todos se ajudavam até não ficar nenhum.
As estradas eram ruins, passavam pelas fazendas.
Ela ia entregando as mercadorias nas vendas.
Depois de quase um mês de viajem, ele voltava para casa.
No peito muita saudade da mulher e da gurizada.

V
A viagem continuava de Prudentópolis a Imbituva,
O sofrimento era grande quando o tempo era de chuva.
Só que o velho carroceiro, nas rédeas ele era o astro,
Ele também trabalhava em Ponta Grossa e Castro.
Depois do trabalho feito, mais uma missão cumprida,
Este homem de quem vos falo foi um exemplo de vida.
O que eu escrevi, acredite, é história verdadeira,
Este velho carroceiro era um filho de Palmeira.

Os versos são dedicados a seu sogro Antônio Bach Filho, que foi carroceiro e ajudou a desbravar e desenvolver o estado do Paraná. Mesmo tendo sido musicados, esses versos eram declamados e não cantados.

Essa letra é abertura do livro Carroções, de Arnoldo Monteiro Bach, publicado no ano de 2003.

A foto da publicação é do próprio Antonio Bach Filho, em Curitiba, onde é hoje o Museu Ferroviário da cidade.

(1) Stinger: Palavra de origem alemã que significa lampião ou lamparina. Antônio era de origem Alemã.



sábado, 16 de julho de 2011

O Galo do Vizinho

I
O galo cantou mais cedo
E o dono ficou alerta
Eu vou ter que levantar
É uma raposa na certa
Saiu sem fazer barulho
Andando devagarinho
Ao chegar no galinheiro
Deu de cara com o vizinho

Refrão
   Se tu gostas de galeto
   Vá e compres no mercado
   Por que galo do vizinho
   Dá um pepino danado.

II
Pegou e deu um tiro pra cima
Só pra ver o que acontecia
E o ladrão desesperado
Não sabia o que fazia
Se eu correr o bicho pega
Seu eu ficar o bicho come
Eu vou ter que me virar
Nem que seja em lobisomen

Refrão
   Se tu gostas de galeto
   Vá e compres no mercado
   Por que galo do vizinho
   Dá um pepino danado.

III
Saiu correndo de quatro
E a cachorrada atrás
Dizem que até hoje
Ele não foi visto mais
Mas depois daquela noite
De uma façanha medonha
Não se sabe se morreu
Ou foi embora de vergonha

Refrão
   Se tu gostas de galeto
   Vá e compres no mercado
   Por que galo do vizinho
   Dá um pepino danado.

Jandir Bianco, 03/02/2001.

domingo, 10 de julho de 2011

Posto de Saúde

I
Falei para minha mulher
Hoje vou me consultar
Fui no posto de saúde
Peguei a senha e fui sentar
Fiquei esperando um bom tempo
E nada de me chamar
Cheguei até me sentir mal
De tanto ter que esperar

II
De repente me chamaram
Eu com a senha na mão
Perguntaram o nome e a idade
Também a filiação
Mandaram sentar de novo
E aguardar para avaliação
Daí me chamaram pelo nome
Para pesar e medir pressão

III
Mandaram voltar à tarde
Tinha sol e muito calor
Com a consulta marcada
Fiquei esperando o doutor
Ele chegou e me deu uma olhada
Perguntou se eu sentia dor
Respondi meio com raiva
Não doi nada não senhor

IV
Sentado lá no meu canto
Eu fiquei a imaginar
Vendo aquela gente de idade
Que não parava de chegar
Quando o pobre fica doente
Sem dinheiro pra pagar
O coitado morre à mingua
Esperando o governo ajudar

Jandir Bianco, 07/05/2005.

domingo, 3 de julho de 2011

A Loja do Turco

I
Fui numa loja de turco
Comprar calça pro piá meu
Mas quando a mulher lavou
A danada encolheu
Voltei lá pra reclamar
Mas o turco percebeu
Veio ao meu encontro dizendo:
"Como o menino cresceu!"

II
Eu fiquei muito nervoso
Piá com a calça na canela
Aquilo estava parecendo
Igual tripa em mortadela
O turco me disse: "Primo!
Patrício dá um jeito nela
Primo pega e leva duas
Eu dá desconto da tabela."


III
Eu achei bom negócio
Resolvi fazer a troca
Mas o danado do turco
Me cobrou tudo de volta
E então para sacanear
Só pago no fim do mês
Patrício vai dar desconto
E continuo sendo freguês.

Jandir Bianco, 02/02/2001.