I
O carroceiro vai faceiro, seguindo pela estrada,
Com sua gaitinha de boca, pra tocar La na pousada.
Quando a tarde chegava, todos com muita alegria.
Desengatava a burrada, pois só saiam no outro dia.
À noite contavam causos, perto do fogo de chão.
Tomavam um gole de pura, depois um bom chimarrão.
II
Enquanto descansava um pouco, ia preparando o jantar,
Não podia dormir tarde, pois tinha que madrugar.
Até ir ajeitando tudo, o trabalho era duro
O carroção carregado, puxado por oito burros.
O trabalho era pesado feito por homem valente,
Temos que lembrar o passado pra poder viver o presente.
III
Este velho carroceiro era descendente de alemão,
Desbrava o Paraná, em cima do carroção.
Junto com as mercadorias, também ia à profissão.
E pendurado no toldo, ia o stinger(1), que é um lampião.
Às vezes com a guaiaca cheia, às vezes com ela vazia.
De Pitanga e Guarapuava pra Paranaguá ele ia.
Carregada de erva-mate, a viagem dava uns dez dias,
Cortando nossos planaltos, as três serras descia.
IV
No retorno ele trazia querosene, açúcar e sal.
Quando o carroção encalhava, ai ele se dava mal.
Esperava os companheiros e faziam um pixirum,
Pois todos se ajudavam até não ficar nenhum.
As estradas eram ruins, passavam pelas fazendas.
Ela ia entregando as mercadorias nas vendas.
Depois de quase um mês de viajem, ele voltava para casa.
No peito muita saudade da mulher e da gurizada.
V
A viagem continuava de Prudentópolis a Imbituva,
O sofrimento era grande quando o tempo era de chuva.
Só que o velho carroceiro, nas rédeas ele era o astro,
Ele também trabalhava em Ponta Grossa e Castro.
Depois do trabalho feito, mais uma missão cumprida,
Este homem de quem vos falo foi um exemplo de vida.
O que eu escrevi, acredite, é história verdadeira,
Este velho carroceiro era um filho de Palmeira.
Os versos são dedicados a seu sogro Antônio Bach Filho, que foi carroceiro e ajudou a desbravar e desenvolver o estado do Paraná. Mesmo tendo sido musicados, esses versos eram declamados e não cantados.
Essa letra é abertura do livro Carroções, de Arnoldo Monteiro Bach, publicado no ano de 2003.
A foto da publicação é do próprio Antonio Bach Filho, em Curitiba, onde é hoje o Museu Ferroviário da cidade.
(1) Stinger: Palavra de origem alemã que significa lampião ou lamparina. Antônio era de origem Alemã.